Por que “fechar a boca” não emagrece: entenda o que realmente faz você perder peso com saúde

COMER POUCO NÃO EMAGRECE

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Se você está enfrentando a luta contra o sobrepeso ou a obesidade, provavelmente já ouviu frases como: “é só fechar a boca” ou “coma menos e se exercite mais”.

Mas, se fosse realmente tão simples, não haveria mais de 1 bilhão de pessoas obesas no mundo, concorda?

O emagrecimento verdadeiro, aquele que é duradouro, saudável e sem culpa, vai muito além de conselhos superficiais como esses.

Diversos fatores podem dificultar esse processo, como metabolismo desacelerado, desequilíbrios hormonais, saúde intestinal comprometida e até a qualidade do sono.
E se você já passou dos 40 anos, sabe que emagrecer pode se tornar ainda mais desafiador.

Continue a leitura para entender quais fatores podem estar impedindo seu corpo de emagrecer e o que fazer sobre isso.

 

COMER POUCO NÃO EMAGRECE
COMER POUCO NÃO EMAGRECE

O mito do “comer menos e se exercitar mais”

Durante muito tempo, acreditou-se que o emagrecimento era apenas uma equação de calorias ingeridas versus calorias gastas. Embora essa lógica tenha sua base, ela está longe de explicar toda a complexidade do ganho e da perda de peso.

A verdade é que o corpo humano tem mecanismos de adaptação metabólica: quando você come menos por muito tempo, seu metabolismo pode diminuir, dificultando a queima de gordura. Além disso, dietas muito restritivas aumentam os níveis de cortisol (o hormônio do estresse), o que favorece o acúmulo de gordura, especialmente na região abdominal.

Portanto, aquelas dietas restritivas que vemos pela internet afora não são a solução, e podem trazer até mais malefícios, tais como:

  • Reduzir a taxa metabólica basal
  • Estimular o efeito rebote
  • Aumentar o apetite e reduzir a saciedade
  • Elevar o estresse e a compulsão alimentar

Ou seja: fechar a boca pode até funcionar por um tempo, mas raramente leva a resultados sustentáveis. É preciso comer, com estratégia e qualidade, para emagrecer de forma saudável e sustentável.

Os verdadeiros fatores que influenciam o emagrecimento

1. Desregulações hormonais

Hormônios são mensageiros químicos que controlam praticamente tudo em nosso organismo, inclusive o apetite, o armazenamento de gordura e o gasto calórico.

Alguns hormônios que influenciam diretamente na perda de peso:

  • Insulina: hormônio anabólico que, em excesso, favorece o estoque de gordura.
  • Leptina: sinaliza a saciedade, mas sua eficácia é reduzida em pessoas com sobrepeso.
  • Grelina: aumenta o apetite; tende a subir após dietas restritivas.
  • Cortisol: em níveis elevados, favorece o acúmulo de gordura visceral.
  • Hormônios da tireoide (TSH, T3, T4): regem o metabolismo; quando desregulados, tornam a perda de peso muito mais difícil.

Portanto, se algum integrante dessa “orquestra” não estiver funcionando bem, todo o corpo sente. E isso muitas vezes se reflete não apenas na dificuldade para emagrecer e na facilidade em ganhar peso, mas também na disposição, no humor e em vários outros aspectos.

Importante: A resistência à leptina e o hiperinsulinismo são frequentes em pessoas com obesidade e exigem avaliação médica.

2. Qualidade do sono

Estudos mostram que dormir menos de 7 horas por noite está associado a maior risco de ganho de peso e obesidade. A privação de sono desregula os hormônios da fome e da saciedade, como a leptina e a grelina, e também aumenta a vontade de comer alimentos ricos em carboidratos simples, açúcarados e gordura

De forma geral, essas são as consequencias da má qualidade do sono:

  • Aumento da fome
  • Dificuldade para perder gordura corporal
  • Redução da massa muscular
  • Piora do metabolismo

3. Estresse e cortisol elevado

O estresse crônico leva a uma produção constante de cortisol, que está associado ao aumento do apetite, compulsão alimentar e armazenamento de gordura abdominal. Além disso, o cortisol interfere negativamente na qualidade do sono e na regulação de outros hormônios.

Sinais de que o cortisol pode estar alto:

  • Fadiga constante
  • Ganho de peso mesmo com dieta
  • Sono leve ou insônia
  • Irritabilidade

Mas é importante reforçar: o cortisol não é um vilão. Na verdade, esse hormônio é essencial para o nosso corpo, é ele que nos dá energia para, inclusive, levantar da cama, por exemplo.

O que merece atenção são os desequilíbrios: tanto os níveis abaixo quanto acima dos valores de referência podem trazer impactos negativos à saúde.

4. Inflamações crônicas

Pessoas com sobrepeso ou obesidade costumam apresentar um estado de inflamação crônica de baixo grau. Essa inflamação dificulta a sinalização hormonal, reduz a sensibilidade à insulina e interfere na regulação do apetite.

A gordura visceral, especialmente, é altamente inflamatória. Além disso, o tecido adiposo libera citocinas inflamatórias, contribuindo para doenças metabólicas como o diabetes tipo 2.

 

5. Intestino e microbiota intestinal

O intestino é muito mais do que um órgão digestivo. Ele influencia diretamente o metabolismo, o sistema imunológico, a absorção de nutrientes e até a produção de neurotransmissores.

Pessoas com microbiota desequilibrada (disbiose intestinal) tendem a:

  • Ter mais inflamação
  • Apresentar compulsão alimentar
  • Armazenar mais gordura corporal
  • Ter mais dificuldades em emagrecer【37†source】

Fatores que prejudicam a microbiota intestinal:

  • Dieta rica em industrializados
  • Falta de fibras
  • Uso frequente de antibióticos
  • Estresse crônico

6. Metabolismo mais lento após os 30

Com o passar dos anos, especialmente após os 40, é natural que haja uma redução da massa muscular, o que diminui o gasto calórico em repouso. Isso significa que o metabolismo se torna mais lento, exigindo mais estratégias para manter o peso corporal estável.

Outros fatores que afetam o metabolismo:

  • Sedentarismo
  • Dietas muito restritivas
  • Falta de proteínas na alimentação
  • Deficiências nutricionais

7. Menopausa (para mulheres) e Andropausa (para homens)

A menopausa e a andropausa trazem alterações hormonais profundas, como a queda do estrogênio (no caso das mulheres) e da testosterona (principalmente no caso dos homens), que afetam o metabolismo, o humor, o sono e a distribuição de gordura corporal.

Mudanças comuns na menopausa e na andropausa:

  • Ganho de peso na região abdominal
  • Perda de massa muscular
  • Aumento do apetite e da ansiedade
  • Piora na qualidade do sono

Uma avaliação com profissional especializado é fundamental nessa fase.

O papel da alimentação:

Não há dúvidas de que a alimentação é parte essencial no processo de emagrecimento. Mas ela sozinha não resolve quando os outros fatores estão desregulados.

Ao invés de focar apenas em calorias, o ideal é buscar uma alimentação:

  • Rica em fibras (vegetais, frutas, sementes)
  • Fonte de proteínas de qualidade
  • Com gorduras boas (azeite, castanhas, abacate)
  • Pobre em ultraprocessados

Além disso, é preciso entender os sinais do corpo, resgatar a saciedade natural e tratar relações emocionais com a comida.

Por que uma abordagem médica faz a diferença

Um plano de emagrecimento baseado em evidências e estratégias individualizadas e personalizadas leva em consideração muito mais do que o número na balança. 

Analisamos exames, hábitos, histórico de vida e, principalmente, os aspectos metabólicos e hormonais que estão travando seus resultados.

Um médico especialista pode:

  • Solicitar exames para investigar problemas hormonais
  • Avaliar o funcionamento do intestino e microbiota
  • Propor ajustes de estilo de vida personalizados
  • Incluir, se necessário, medicamentos seguros e cientificamente validados

 

Portanto, se você está lutando para emagrecer, não é falta de força de vontade. É muito provável que existam fatores biológicos e comportamentais influenciando diretamente seu corpo.

O emagrecimento verdadeiro é aquele que considera seu metabolismo, seus hormônios, seu intestino, seu sono, sua rotina.

Por isso, pare de se culpar e comece a olhar para seu corpo com mais compaixão e estratégia.

Se você se identificou com esse conteúdo e quer iniciar uma abordagem científica e eficaz para perder peso, agende uma consulta com um profissional especializado. Seu corpo merece esse cuidado.

 

Fontes:

  1. Van Hul M, Cani PD. The gut microbiota in obesity and weight management: microbes as friends or foe? Nat Rev Endocrinol. 2023 May;19(5):258-271. doi: 10.1038/s41574-022-00794-0. Epub 2023 Jan 17. PMID: 36650295. 
  2. Papatriantafyllou E, Efthymiou D, Zoumbaneas E, Popescu CA, Vassilopoulou E. Sleep Deprivation: Effects on Weight Loss and Weight Loss Maintenance. Nutrients. 2022 Apr 8;14(8):1549. doi: 10.3390/nu14081549. PMID: 35458110; PMCID: PMC9031614. 
  3. Liu D, Huang Y, Huang C, Yang S, Wei X, Zhang P, et al. Calorie restriction with or without time-restricted eating in weight loss. N Engl J Med. 2022 Apr 21;386(16):1495-1504. doi:10.1056/NEJMoa2114833.
  4. Knight MG, Anekwe C, Washington K, Akam EY, Wang E, Stanford FC. Weight regulation in menopause. Menopause. 2021 May 24;28(8):960-965. doi: 10.1097/GME.0000000000001792. PMID: 34033603; PMCID: PMC8373626.
  5. Pearce, Elizabeth N.. Thyroid hormone and obesity. Current Opinion in Endocrinology & Diabetes and Obesity 19(5):p 408-413, October 2012. | DOI: 10.1097/MED.0b013e328355cd6c 
  6. S.D. Hewagalamulage, T.K. Lee, I.J. Clarke, B.A. Henry, Stress, cortisol, and obesity: a role for cortisol responsiveness in identifying individuals prone to obesity, Domestic Animal Endocrinology, Volume 56, Supplement, 2016, Pages S112-S120, ISSN 0739-7240, https://doi.org/10.1016/j.domaniend.2016.03.004.