Testosterona: reposição hormonal e os riscos dos anabolizantes. - Dr. Claudemir Campos

Testosterona: reposição hormonal e os riscos dos anabolizantes.

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Você sabia que a testosterona é um hormônio essencial na saúde do homem? 

Ela tem um papel crucial em várias funções do nosso corpo, como na regulação das características sexuais, no humor, na energia, na força muscular, na saúde óssea e na distribuição de gordura. À medida que os homens envelhecem, os níveis de testosterona naturalmente diminuem, o que pode levar a uma condição chamada hipogonadismo tardio ou funcional. Essa condição é marcada por uma série de sintomas físicos e psicológicos que podem impactar negativamente a qualidade de vida.

Essa redução pode ser associada a sintomas como fadiga, depressão, baixa libido e perda de massa muscular. Além disso, há uma diminuição na capacidade de resistência e de recuperação muscular, fatores essenciais para manter a função física e a independência na velhice. Quando diagnosticada corretamente por um médico capacitado, a terapia de reposição de testosterona (TRT) pode ser uma intervenção eficaz, ajudando a melhorar o humor, o comportamento e a qualidade de vida.

Mas não é apenas a idade que influencia nos níveis de testosterona. O que comemos também desempenha um papel fundamental. 

Uma alimentação adequada e a suplementação de vitaminas, quando necessárias, são essenciais para manter a saúde muscular e óssea. Dietas ricas em proteínas e gorduras saudáveis estão frequentemente associadas a níveis mais altos de testosterona, enquanto dietas pobres em calorias ou com deficiência de nutrientes podem reduzir a produção do hormônio. Micronutrientes como o zinco e vitaminas como a vitamina D são especialmente importantes; suas deficiências têm sido ligadas a baixos níveis de testosterona. Portanto, cuidar da nutrição é vital não apenas para manter os níveis hormonais, mas também para a saúde geral, especialmente para os homens mais velhos.

E não podemos esquecer do exercício físico! 

A prática regular de atividades físicas é uma das maneiras mais eficazes de aumentar naturalmente os níveis de testosterona. Exercícios de resistência, como musculação, e exercícios aeróbicos intensos podem promover aumentos significativos na produção de testosterona. Além de aumentar a produção hormonal, o exercício melhora a sensibilidade dos receptores androgênicos, potencializando os efeitos benéficos da testosterona no corpo. Manter uma rotina de exercícios é fundamental para preservar a massa muscular e a densidade óssea, especialmente com o avançar da idade.

A queda natural nos níveis de testosterona pode ser exacerbada por um estilo de vida sedentário e uma má alimentação.

Esses dois fatores aumentam a perda muscular, o ganho de gordura, a fragilidade óssea e os problemas metabólicos, como a resistência à insulina. Estudos mostram que intervenções combinadas, incluindo reposição hormonal, ajustes na dieta e programas de exercício físico, são essenciais para otimizar a saúde hormonal e minimizar os efeitos do envelhecimento. A TRT, por exemplo, tende a ser mais eficaz quando combinada com exercícios de resistência e uma dieta rica em nutrientes, promovendo melhorias na composição corporal, na força muscular e no bem-estar geral.

Como vocês podem ver, embora a terapia de reposição de testosterona seja indicada quando necessária, temos que tomar cuidado com o uso inadvertido dos esteroides anabolizantes. 

Os esteroides anabolizantes são versões sintéticas da testosterona e, embora possam ter aplicações terapêuticas, seu uso sem a orientação médica adequada está associado a uma série de riscos graves para a saúde. Quando utilizados de forma inadequada, esses esteroides podem provocar efeitos adversos significativos em diversos sistemas do corpo.

O uso não supervisionado de esteroides anabolizantes é especialmente perigoso para o coração. 

O uso prolongado e em doses elevadas pode levar a um aumento da pressão arterial, ao espessamento das paredes do coração e a um maior risco de aterosclerose — uma condição em que as artérias endurecem e se estreitam. Essas alterações podem resultar em ataques cardíacos, acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e até morte súbita. Além disso, o abuso de esteroides pode alterar negativamente o perfil lipídico do corpo, diminuindo os níveis de HDL (o “bom” colesterol) e aumentando os níveis de LDL (o “mau” colesterol), o que aumenta ainda mais o risco de doenças cardiovasculares.

O uso de esteroides anabolizantes pode interferir na produção natural de testosterona do corpo, levando a uma redução significativa nos níveis de testosterona endógena.

Isso pode resultar em hipogonadismo, uma condição em que a produção de testosterona pelos testículos é inadequada. Além disso, os usuários de esteroides podem experimentar uma redução no tamanho dos testículos, diminuição da contagem de espermatozoides e, em casos extremos, infertilidade permanente. Nas mulheres, o uso de esteroides pode causar masculinização, como crescimento excessivo de pelos, voz mais grave e irregularidades menstruais.

O fígado também pode ser gravemente afetado pelo uso de esteroides anabolizantes, especialmente os tomados por via oral, como o estanozolol. 

Esses compostos podem causar danos ao fígado, levando a condições como hepatite medicamentosa, colestase (bloqueio do fluxo da bile) e, em casos raros, câncer de fígado. A peliose hepática, uma condição rara em que se formam cistos preenchidos de sangue no fígado, também tem sido associada ao abuso de esteroides.

O impacto dos esteroides anabolizantes na saúde mental não deve ser subestimado. 

Alguns usuários experimentam o que é conhecido como “roid rage”, um aumento da agressividade e comportamentos impulsivos, que podem levar até mesmo à violência. Além disso, a depressão é um efeito colateral comum após a interrupção do uso de esteroides, e há relatos de dependência psicológica, onde indivíduos continuam a usá-los apesar de sofrerem efeitos adversos. Outros distúrbios psiquiátricos, como ansiedade, insônia e paranoia, também são observados em usuários crônicos de esteroides.

Portanto, é fundamental que a terapia com testosterona seja administrada apenas sob a supervisão de um médico qualificado, que possa monitorar os efeitos no corpo e ajustar as doses conforme necessário. 

Priorize sempre a saúde e o bem-estar em vez de pensar somente no curto prazo.

Referências

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